Resumo do texto
A evolução do futebol feminino como produto foi tema do World Football Summit 2020 (WFS-Live);
O futebol feminino ganhou visibilidade a partir da copa do mundo de 2019, mas é preciso que ações sejam feitas em conjunto com a mídia para que o esporte seja mais difundido e entre em igualdade com as disputas do masculino;
Conhecer mais sobre também é derrubar preconceitos e trazer para dentro meninas que sonham em ser jogadoras e incentivar patrocínio dentro de campo;
O futebol feminino só vai se desenvolver quando for olhado como produto de entretenimento, observando suas particularidades para que ganhe cada vez mais espaço.
O futebol feminino vem ganhando mais espaço e prestígio por parte da sociedade. Mesmo assim, sofre alguns entraves como a questão do preconceito que reflete na busca do esporte pelas mulheres e a necessidade de entender o futebol como um produto de entretenimento.
O assunto foi discutido no evento world football summit (WFS) e Marcos Motta, founder do Hubstage e embaixador do sportainment no Brasil participou deste debate que trouxe nomes como Mônica Esperidião, co-fundadora da Women experience sports (WES), Aline Pellegrino, diretora de futebol feminino na Federação Paulista de Futebol (FPF), Carolina Melo, coordenadora de futebol da Ferroviária e Helena Calil, da DAZN como moderadora do debate.
Depois da copa do mundo de futebol feminino, esse esporte ganhou ainda mais destaque nacional, já no Brasil, o que domina é a versão masculina. Mas a grande surpresa é ver que a maioria das pessoas que acompanham as competições são homens.
Só no jogo da copa feminina em 2019, o público masculino teve uma participação de 42% entre os telespectadores que acompanharam os jogos. E essa alta audiência no geral, além de outros determinantes, foi resultado de cada vez mais se falar sobre o futebol feminino e abrir seu devido espaço na sociedade.
A mídia no Brasil têm grande influência sobre o que passamos a escutar e consequentemente aprender a incorporar diariamente as novidades e tendências, por isso é de grande importância a participação deste setor na construção e propagação da cultura do esporte feminino na sociedade, “a partir do momento em que a gente trabalha os diferenciais que o futebol feminino tem e leva esses diferenciais para a mídia, a gente começa a gerar o interesse dela e coloca em evidência o futebol feminino, as marcas começam, a se interessar e se forma um ciclo, que incentiva desde as meninas em começo de carreira até os patrocinadores em campo”, comenta Mônica Esperidião.
O impacto das transmissões foi tão grande que a emissora oficial aqui no Brasil não ia transmitir a final da copa, já que o Brasil foi eliminado, mas isso foi repensado graças a grande adesão do público e o interesse em continuar vendo os jogos.
E o setor de marketing dentro dos clubes também têm grande responsabilidade dentro desse ciclo de alavancar o esporte. O caminho, segundo as convidadas, é mostrar os bons diferenciais e que é bom para todo mundo, além de evidenciar o fairplay muito presente no feminino e olhar como um negócio, não como um movimento de obrigatoriedade.
Futebol feminino como produto
O futebol feminino precisa de um trato diferente e um tipo de “envelopamento” para ser vendido, deixar tudo muito bem apresentado para ser reconhecido como um produto e assim conseguir mais prestígio e lugar de importância dentro da sociedade. Ele precisa ser construído genuinamente pensado para o futebol feminino e não adaptado do masculino, o que é possível perceber em alguns casos.
Quanto mais esse sentido afinado de perceber as particularidades for desenvolvido, mais assertivo será o marketing. Segundo as convidadas do WFS, o futebol feminino além de contar com o diferencial de ter um público masculino maior, também tem a atuação do público, segundo o que comentaram no evento, as torcidas adversárias se aplaudem, vão a jogos em estádios adversários e isso não é visto no futebol masculino - são características muito interessantes.
A copa do mundo feminina serviu como um forte marketing para os campeonatos locais e isso fez com que mais meninas fossem atraídas para se tornarem atletas, segundo Carolina. Grandes campeonatos servem como um foco de atenção, como na copa, e se vender como produto é o que faz despertar atenção de patrocinadores para que injetem dinheiro nesses projetos, assim como acontece fortemente com o masculino. “A final do Campeonato Brasileiro entre Corinthians e Ferroviária, por exemplo, foi a maior audiência da Band e bateu outros programas da casa”, comenta Carolina sobre a importância da visibilidade que uma copa do mundo traz para outras competições.
O esporte nos Estados Unidos, por exemplo, começou a se desenvolver quando se encararam como produto, segundo Mônica, “temos que encarar o futebol feminino como produto, enquanto encararmos como projeto social, não vamos chegar a lugar nenhum”, comenta. A partir de quando o país, entidades, governo e sociedade entenderem essa mudança e colocarem em prática, é que devemos nos igualar à padrões internacionais.
Vender o futebol feminino como produto é entender que esse esporte pode ser cada vez mais visto dentro e fora do país. É normal que brasileiros conheçam o futebol estrangeiro, mas por lá, a seleção é geralmente a mais lembrada, e claro, a masculina. O que se busca com esse “pacote” de entretenimento é trazer brilho para o futebol, alegria para quem assiste e a emoção de ver um campeonato, não só um time isolado.
O trabalho dentro dos clubes femininos
Infelizmente o Brasil ainda “engatinha” em questões esportivas desde cedo, diferente do que acontece em outros países em questões governamentais da parte de educação com um plano nacional de esporte.
Para Aline, o grande ponto a ser trabalhado no Brasil é o fomento de massificar o futebol feminino, que precisa de mais meninas praticando, porque no futuro elas vão gerar três ou quatro operações de negócios diferentes, sendo consumidoras ou atletas de alto rendimento e esse número no Brasil está abaixo na Fifa, segundo Calil.
Por isso, modelos americanos ou de outros países podem ser muito interessantes para serem adaptados ao Brasil. É preciso tornar o esporte feminino natural e amplamente divulgado por aqui - isso começa pelos clubes.
A Ferroviária é um case interessante, porque apesar de ser um clube do interior e ter uma estrutura mais enxuta, oferece as mesmas possibilidades para o time feminino. “Tudo o que tem no clube é estendido ao futebol feminino, mesmos campos de treinamento, arena, departamento médico e de marketing”, comenta Carolina.
E conhecendo a história do nosso país, sabemos que existe preconceito por parte da sociedade quanto meninas praticarem futebol. Aline defende que isso deve ser tratado como uma mudança de percepção cultural do pai, da mãe, do professor de educação física, “é preciso mais cedo trabalhar essas questões, naturalizar aquilo que é de fato natural, mas que ao mesmo tempo foi por tantos anos olhado como uma proibição, de que o espaço é do homem”. Para isso é necessário mecanismos que acelerem esse desenvolvimento e não esperar que soluções surjam com o tempo.
Com essas mudanças sociais e entender que o futebol feminino é mais do que uma partida, mas sim meninas que sonham em serem atletas e que tem todo potencial de se tornar uma paixão nacional tão igual a masculina, é que vamos ver novos rumos no esporte e se aproximar de padrões internacionais em que esse tipo de esporte é bem desenvolvido e massivamente acompanhado.
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