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As lições que o entretenimento pode agregar ao futebol brasileiro

Resumo do texto

  • A experiência do público foi tema de painel na World Football Summit (WFS-Live) 2020;

  • O futebol brasileiro está preso ao passado e não se renova, o setor do entretenimento pode ensinar muito sobre experiência do cliente do começo ao fim do espetáculo;

  • Futebol deve ser olhado e vendido como produto de entretenimento, é muito mais do que 90 minutos do jogo, é tornar o momento inesquecível, esse conjunto é conhecido como sportainment;

  • O problema de transformar o esporte está justamente nos clubes que ainda não pensam a longo prazo e veem o sportainment como um gato e não investimento.

O futebol é um dos esportes mais amados do brasileiro, mas é de fato um dos que menos caminham para uma mudança no quesito entretenimento. Ainda não é uma preocupação a busca pela melhor experiência do público, onde transforma-se a percepção de apenas um jogo em um grande espetáculo carregado de emoções e lembranças.


Um dos painéis do World Football Summit (WFS) de 2020 tratou deste assunto, de como o futebol pode aprender com a indústria do entretenimento, que se preocupa com essa experiência do público. O debate contou com a presença de Ricardo Dias, Vice-presidente de marketing da Ambev, Roberta Coelho, CEO da Game XP & Head of Business Development do Rock in Rio, Samuel Lloyd, Diretor do estádio Mineirão e Eduardo Baraldi, Ceo da Octagon que participou como mediador.


O esporte em nosso país tem como espelho o passado e não saímos disso até então. Ainda estamos atrasados na questão de trazer o sportainment (junção de esporte e entretenimento) para dentro. Certamente se te perguntarem de qual esporte você lembra ao falar de espetáculo, de campeonatos que prendem pessoas de diversos países e ainda cria-se momentos históricos, sua resposta deve ser o futebol americano, campeonato europeu, basquete, entre outros.


Por diversos motivos, a inovação e a preocupação com o torcedor foram ficando para trás aqui no Brasil e com a chegada da pandemia causada pela Covid-19, o cenário se agravou, mas serviu como um acelerador e quem sabe, aquele empurrão que faltava.


A partir de agora a preocupação de muitos é como estar perto do público e programar uma volta do futebol sem torcida por um bom tempo. São questões menos importantes em outros países, que já conseguiram conquistar espaços tanto no presencial quanto no digital.


No exemplo do Mineirão (estádio de Belo Horizonte-MG), já começou a se reinventar há um tempo. Samuel Lloyd lembra que somente os jogos não serem suficientes para sustentar os negócios e foi proposto outros tipos de entretenimento, até como exemplo o show da banda Skank com o estádio vazio. E é esse o caminho que o futebol deve trilhar, buscar trazer novas experiências para o torcedor, “não existe nenhuma hegemonia que não possa ser ameaçada [...] futebol precisa se reinventar, existem novas plataformas que estão chegando e o futebol tem que explorá-las”, comenta Samuel.


Reinvenção do futebol como produto e a relação com o fã


Para o futebol continuar brilhando e ser cada vez mais conhecido lá fora, além da seleção brasileira e marcar as pessoas, ele precisa ser transformado em um produto, ganhar uma “roupa nova” e ter uma real preocupação: “como as pessoas estão saindo deste evento?” Da mesma maneira que chegaram não pode ser uma resposta - e o setor do entretenimento sabe disso.


Um ótimo exemplo é o Rock in Rio, evento internacional que leva milhares de pessoas para vivenciar um momento que certamente vão transformá-las, seja com uma lembrança ou como uma nova descoberta. E o futebol precisa ter proximidade com essas características. Na opinião de Roberta Coelho, é importante aproveitar o momento de distanciamento da torcida para geração de conteúdo.


Ricardo Dias também concorda com a ideia de Roberta, “acredito que no futuro os clubes criem conteúdos, tudo o que melhora a experiência e agrega valor ao consumo é positivo”, comenta.


O problema de reinventar o futebol como um produto, na visão de Samuel, está justamente no perfil dos clubes, que ao invés de investir em inovação, preferem gastar o orçamento com jogadores. Lloyd acredita que os dirigentes não têm visão de liderança e atenção a medidas a longo prazo. O pensamento segundo ele, está em “ganhar a próxima eleição [...] e investir em melhorias não é preocupação dos clubes.”


Experiência e marketing são importantes nesse momento


A experiência inesquecível só é completa quando tem contato pessoal, na opinião de Roberta. Então, neste momento é preciso que o marketing ganhe forças para que as pessoas ainda consigam se conectar com suas paixões.


Samuel diz que a missão do Mineirão durante este tempo em que as pessoas não podem se reunir, foi de passar mensagens positivas para os torcedores em Minas Gerais, além da ajuda de lives que trouxeram esse sentimento de proximidade com o público.


O futebol precisa sair da bolha que vive e entender que é um entretenimento também, além de melhorar a experiência das pessoas, “tem que começar a pensar na experiência do consumidor desde quando ele sai de casa, durante e depois do jogo”, enfatiza Roberta.


Uma coisa que as marcas já começaram a aprender e isso deve ser estendido ao futebol é ouvir o cliente, no caso o torcedor. Eles têm muito a dizer e ajudar no que pode dar certo ou não. É o gosto dele que pode moldar cada negócio e fazer com que o futebol seja muito mais do que 90 minutos.


Justamente sobre essa pesquisa é que Roberta diz ser possível compreender os gostos do consumidor em uma edição do Rock in Rio ou em um novo game. A pesquisa de campo com a pessoa que pagou para estar ali, segundo ela, é muito importante para entregar a melhor experiência, que é o foco no final das contas. E segundo Samuel, essa prática não é comum no futebol, em ouvir um torcedor na disputa do domingo para melhorar no jogo de quarta-feira. “Não é normal entender o que o torcedor precisa e isso deve se tornar normal”, diz. Ainda mais nessa busca pela volta do presencial que é uma outra questão para fazer com que as pessoas voltem ao estádio.


Já existem diversos modelos internacionais em que é possível enxergar o futebol como entretenimento, por isso, não é preciso “reinventar a roda”. O segredo está em olhar o futebol como negócio e não só como um esporte isolado. Infelizmente, o assunto ainda não é amplamente discutido, graças àqueles que querem manter o futebol como antes, que tratam o torcedor como apenas mais uma fonte de renda e mal sabem que o sportainment pode abrir diversas possibilidades para captação de recursos ainda mais ricos e valiosos. Não só na questão de cifras, mas ao que diz respeito a algo bem mais profundo: as experiências positivas que os torcedores irão levar para casa.




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